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sábado, 5 de julho de 2014

UMA JANELA PARA DIRCEU

 


Dirceu volta para o Centro de Progressão Penitenciária após primeiro dia de trabalho: especialistas veem carro como ‘regalia’
Foto: Givaldo Barbosa / Agência O Globo
Dirceu volta para o Centro de Progressão Penitenciária após primeiro dia de trabalho: especialistas veem carro como ‘regalia’- Givaldo Barbosa / Agência O Globo


SÃO PAULO. O fato do ex-ministro José Dirceu ter deixado a prisão para ir trabalhar no escritório de advocacia do amigo José Gerardo Grossi à bordo de uma perua Hilux, com motorista, ter duas horas de almoço, entre outras benesses, foi duramente criticado por cientistas políticos ouvidos pelo GLOBO, que classificaram as mordomias como "deboche" à sociedade e ao sistema judiciário.
Para Bolivar Lamounier, nem nos tempos das prisões políticas, os presos tiveram regalias como as que estão tendo José Dirceu.
— É um deboche claro. A maioria dos presos brasileiros vive em condições sub-humanas. O próprio ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, disse que as prisões brasileiras mais parecem masmorras medievais, muito longe da situação vivida por Dirceu. Não podemos esquecer que o ex-ministro foi condenado por corrupção, o que é um crime grave e teria que estar recebendo a punição de forma exemplar, sem privilégios — disse Lamounier.
Segundo o cientista político, o "deboche" fica ainda mais completo quando sabe-se que o ex-ministro está saindo da prisão para ir trabalhar no escritório de um amigo influente.
— É óbvio que ele vai continuar fazendo articulações políticas no escritório do amigo. Mas considerando a atual composição do Supremo, esse quadro não deve mudar tão cedo — disse Lamounier.
Depois de destacar que o ex-ministro obteve o direito de trabalhar fora na Justiça, Galdêncio Torquato acha que o próprio condenado tem que assumir uma postura regrada pelo bom senso, sem ostentação.
— Ele não pode ter regalias que outros condenados não tem. Afinal, isso pode prejudicar ainda mais sua imagem, que já é execrada pela opinião pública. Ele não pode ultrapassar os limites do bom senso — lembrou Torquato.
O especialista disse que particularmente concorda com a decisão do Supremo de permitir que trabalhe fora da prisão, mas destacou que a Justiça não pode lhe conceder privilégios.
— A isonomia para os demais condenados tem que ser observada — recomendou Torquato.
De acordo com o cientísta político Humberto Dantas, do Instituto de Ensino e Pesquisa (Insper), quando o trabalho do preso é autorizado pelo Supremo "o que vigora é a lei da oferta e da procura".
— O objetivo do trabalho fora da prisão é o de reinserir o preso na sociedade. E a sociedade é desigual. Dirceu obteve um bom emprego e seu empregador vai lhe oferecer vantagens que outros não tem. Certamente, Dirceu almoçará num bom restaurante e não dependerá do vale refeição para isso — disse o especialista.
Dantas acha que o ex-ministro está exercendo seus direitos.
— Quando ele foi autorizado a trabalhar fora, não se imaginou que o ex-ministro fosse quebrar pedras no deserto ou trabalhar carregando saco de areia nas costas. Ele ainda é uma pessoa que conhece muita gente e tem grande influência. De qualquer forma, o cenário de Dirceu é o espelho fiel da sociedade.

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